Irene Gomes nasce em 1960 desenha infância, afectos silêncios, vazios, maravilha-se com a beleza da natureza e persegue-a na coragem da sobrevivência, guarda árvores, rios, nuvens, pássaros, aromas, cores da terra, no baú dos tesouros. Bolseira no ENAIP-CEP Itália. Discípula de Nadir Afonso. Visível em; Mosteiro da Batalha, C M Batalha, Museu de Leiria, Moinho do Papel, da Guarda, de Rabat, da Presidência da República, Presidência Conselho de Ministros. Em CM Batalha, C M Leiria, C M Barreiro, Fundação Mário Soares, Fundação Bienal Cerveira, Assoc. Jovens Empr. Porto, SPAL, Prisão Regional de Leiria, Seguros Fidelidade, Convento de Santo Agostinho; doze quadros, retábulo no Altar-mor Leiria. Santuário de Fátima. Colecções particulares nacionais e internacionais. Docente de1988 a 1998 no IGESPAR nos cursos Canteiros e Vitralistas, Mosteiro da Batalha. Oito prémios nacionais. Medalha de Ouro de Mérito Municipal. Voluntariado Estab. Prisional Leiria. Parceria com Museus Leiria: Workshops; escolas; crianças carenciadas, famílias.
O meu paraíso é a criação. A infância onde encontro a solidão suscita-me ardentemente o traço, os riscos e os rabiscos estruturam-se nos gatafunhos inquietos da incomensurável sebenta. A teia dos sentimentos crava-se no corpo numa estrutura complexa, como o delírio de um eco, como o eco mudo. O traço rouba-me a natural matéria, dissolvo-me desagrego-me. A forma e a cor sangra-me em terra descalça escrita sob o sol e a lua. Gravo na tela a vertigem de luares pesados, pinceladas como rajadas. Se o sonho se solta do pensamento, cria-se um acto involuntário no quotidiano da criação e a acção prolonga-se na alquimia do desejo. Entro dentro do traço, sou pedras, sou rio, sou ave riscando céus, estio na terra onde a cor e o silêncio se revoluta no cânone da nostalgia. A obra de primária intuição observa-me entre pestanas. Absorve-me. Olha-me friamente, fixamente. Questiono-me. Tens medo? - Sim tenho medo. Pânico. Criei intuitivamente. Existes. És uma realidade pictórica, simples, frágil na sua intensidade. Esquivo-me por entre brisas e aragens, perco-me. E enquanto a harmonia do quadro se forma, fujo para trás de um pincel, sossego-me.